O filme começa com agressões a três ex-ministros que ocuparam ou ocupam pastas nos governos dos ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff. Todas em São Paulo. Uma delas, num hospital frequentado pela classe média-alta paulistana. A cena seguinte mostra uma bomba arremessada em direção à sede do Instituto Lula. Até agora o autor não foi identificado pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. Dá medo de pensar como termina essa película, com doses de terror e de drama.
Não dá para negar que a Dilma eleita está muito distante da Dilma que militantes e dirigentes da CUT e dos movimentos sociais defenderam durante a campanha eleitoral.
Falava-se em manutenção de direitos. As medidas provisórias 664 e 665 fizeram o contrário. Cobrava-se mais recursos para habitação e para a reforma agrária. O que o Brasil viu foi um contingenciamento de políticas públicas como parte de um ajuste fiscal nos moldes dos defendidos pelo candidato derrotado. Aécio Neves (PSDB-MG), que passou a liderar uma oposição ao Brasil. Aliado ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), essa oposição coloca em risco uma democracia duramente conquistada.
A defesa da democracia e da retomada do projeto de governo com justiça, inclusão social, distribuição de renda e geração de trabalho decente é o que o une os movimentos sindical e sociais a ir às ruas, conforme aponta o presidente da CUT, Vagner Freitas.
Em entrevista, ele destaca que é preciso enfrentar o clima de golpe alimentado por veículos de comunicação que perderam a vergonha de mentir e não são cobrados por isso, ainda que semanalmente as histórias que publicam sejam desmascaradas. Veículos que servem para inflamar maus perdedores interessados em levar as eleições para o tapetão. Numa espécie de eterno 3º turno, afirma.
Vagner lembra, ainda, que nenhum golpe trouxe benefícios aos trabalhadores. Ao contrário, financiados por setores empresariais, ajudaram a impedir avanços ou desconstruir conquistas, como esses mesmos patrões buscam fazer no Congresso Nacional agora, em especial, na Câmara dos Deputados, sob regência do garçom dos patrões, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Por isso, lideranças da CUT e dos movimentos sociais farão uma vigília diante do Instituto Lula nos dias 7 e 16 de agosto. Além disso, uma grande mobilização em todo o país está marcada para o dia 20.
Confira abaixo entrevista.
Qual o significado dos três atos que a CUT e os movimentos promoverão em agosto?
Freitas – Nós estamos muito preocupados com a atual situação de intolerância e ousadia dessa direita brasileira, que desrespeita os valores básicos da convivência democrática, do direito do outro, não aceitando o resultado da eleição e impondo ao Brasil uma crise permanente criada por perdedores para desestabilizar o governo federal. Isso tem prejudicado demais o país, paralisado a economia. Quem paga o pato são os trabalhadores, com demissões e a queda nas condições de vida devido à paralisação que o país vive por conta de um terceiro turno criado por uma mídia golpista e uma direita conservadora. Claramente orquestrada por setores da sociedade que querem construir um golpe, causando impeachment da presidenta.
É possível, natural e salutar que o governo tenha apoiadores e questionadores, quem concorda ou não, como é na democracia, e que todos possam manifestar sua opinião, inclusive nas ruas. Agora, golpismo, não! Mentiras construídas pela Veja, pelo O Globo, pela TV Globo, que depois não se sustentam e também não são cobradas como histórias mentirosas que caem por si só também não. Precisamos dar um basta nisso.
Vamos punir os CNPJs e não os milhares de trabalhadores que foram demitidos por conta da devassa que a operação Lava-Jato faz na cadeira produtiva brasileira. Os setores produtivos sérios desse país, empresários e trabalhadores, devem promover uma unidade entre produção e emprego para que façamos todas as apurações, punamos os culpados, mas sem parar com a economia, acabar com os empregos e com a capacidade de crescimento das empresas brasileiras.
Esse cenário que você narra tem relação com ações como ao ataque a ex-ministros e com a bomba jogada no Instituto Lula?
Freitas – O atentado contra o instituto de um ex-presidente da República, que como qualquer ex-presidente, continua sendo autoridade nacional, representa o fim da linha da intolerância que está sendo construída por quem perdeu as eleições e promove uma caça ao PT e aos movimentos sociais. Uma tentativa de criminalização dos movimentos sociais e do partido, um desserviço que se presta ao Brasil e ao mundo por meio de uma mídia conservadora que transforma o ato de fazer política em algo ruim.
É mentira que a direita brasileira esteja preocupada em acabar com a corrupção no Brasil. O que se quer é satanizar o PT, o Lula, os movimentos sociais para que os conservadores de direita coloquem suas políticas em prática sem reação. E esse cenário propicia que um deputado diga que as mulheres podem ser estupradas (em referência ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que os negros sejam demonizados (em referência ao também deputado Marco Feliciano (PSC-SP), para quem paira uma maldição divina sobre os africanos), que os gays sejam assassinados. É um ambiente de que tudo pode, do retrocesso, esse ambiente em que você coloca criança na cadeia, ao invés de colocar na escola. Isso não é democracia ou liberdade de imprensa, isso é baderna. Por isso, os atos do dia 7, do dia 16 e do dia 20. É para deixar claro para a direita que vamos fazer o enfrentamento com ela nas ruas.
Não podemos aceitar mais que a Lava-Jato e a operação intempestiva do Moro (Sérgio Moro) fiquem obrigando os delatores a citarem o Lula de qualquer forma, ainda que não aja indício. Parece que todos chamados a depor têm como preço da liberdade falar do Lula.
Por que mesmo aqueles sem afinidade ou ligação com PT ou PSDB não devem embarcar numa onda golpista?
Vagner Freitas – Porque todas as vezes que tivemos golpe em qualquer lugar do mundo, o atentado à democracia é tão grande que o retrocesso na política demora décadas para ser revertido. Nunca as ações intolerantes são para melhorar a vida do povo. Todos os golpes que tivemos, como contra o Jango (João Goulart, presidente que propôs reformas de base como a agrária e foi deposto pelo golpe de 1964) e contra o Getúlio (Getúlio Vargas, criador da CLT e de avanços como o limite de horas da jornada de trabalho semanal e as férias anuais, cometeu suicídio quando enfrentava resistência do Congresso, da imprensa e das Forças Armadas) ocorreram num momento em que a classe trabalhadora vinha num processo de ascensão e a sociedade tinha uma igualdade muito maior de direitos e conquistas. É nesse momento que a direita vem e dá o golpe para abocanhar todos os resultados da economia, como está acontecendo agora.
Eles querem entregar a Petrobras a uma petrolífera estrangeira para encher o bolso de dinheiro. Não tenho dúvida nenhuma que isso tem uma orquestração internacional. O Brasil do pré-sal, da Petrobras, se torna autossuficiente em petróleo e gás, e mais do que isso, entra diretamente na disputa pelo mercado mais cobiçado do mundo. É por isso a sanha contra a Petrobras, é para enfraquecê-la, para que possa ser vendida, os lobistas ganhem com isso e os entreguistas façam seu papel para ajudar o imperialismo. Olha o atentado ao povo brasileiro, já foi decidido que os recursos do pré-sal serão investidos em saúde e educação, política pública para quem precisa. A grande motivação que se tem é pela inviabilização da Petrobras, são os mesmos que queriam mudar o nome para Petrobrax, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), para vendê-la.
Qual o interesse que o Serra (senador José Serra PSDB-SP) tem ao apresentar o projeto para permitir a venda? O Serra é um lobista e por trás dele há interesses internacionais, querem acabar com sistema de partilha, que o presidente Lula construiu contra a proposta de entrega da nossa riqueza defendida pelo FHC. E que fique claro, a autonomia dos gestores da Petrobras quem construiu foi o Fernando Henrique, quando era presidente. A Petrobras tem uma realidade diferente de todas as outras empresas públicas. No Banco do Brasil e na Caixa os diretores tem autonomia controlada, não chegariam ao estágio que dizem estar chegando de corrupção. Foi o FHC quem tirou a empresa de uma legislação geral e os problemas vem desde lá, mas a mídia encobre.
Sei que há problema na Petrobras, tem que resolver, sanear, a luta contra a corrupção é da CUT, mas não podem se utilizar disso para inviabilizar a empresa.
Qual a responsabilidade que o maior partido da oposição, o PSDB, com um ex-presidente da República em seu quadro, tem em relação ao atual cenário de desemprego, caos social e uma espécie de guerra civil que avistamos como você cita?
Freitas – Nunca achei que o PSDB tivesse qualquer compromisso com o Brasil. É um partido de yuppie sem causa, que não representa nem os princípios liberais e nem abarca os interesses da burguesia brasileira. Não tem projeto. É a cara do Aécio, um yuppie tresloucado. O PSDB tem direito de fazer oposição ao PT, como o PT fez ao PSDB, acho normal ter partido de oposição. Mas se trata de uma oposição sem projeto. Até os que odeiam o PT cobram os tucanos por não terem uma proposta alternativa e não ter compromisso com o Brasil. Eles não são da produção e nem do trabalho. É um partido desses de revoltadinhos sem causa e sem motivo. Não há um projeto que a direita apresente ao Brasil. Eu quero conhecer! Quem sabe não tem coisa boa…Apresente um projeto, diga como quer a economia, o modelo de desenvolvimento, como vai gerar emprego. Só fala que quer tirar o PT porque é corrupto.
O principal líder deles é um acadêmico que entrou na vida pública, em determinada parte de sua trajetória até teve uma boa relação com os movimentos sindical e sociais, teve uma participação importante na greve de 1979 como um interlocutor da defesa da democracia, mas o presidente Fernando Henrique Cardoso, com todo o respeito que tenho, se perdeu. Esqueceu sua trajetória, disse mesmo para esquecerem o que escreveu. E acho que seu ódio, sua sanha para derrotar o PT é porque sempre teve muita inveja das conquistas que o PT trouxe ao Brasil e aos brasileiros. E quando o Fernando Henrique tinha alguma parcela de esquerda talvez um dia quisesse fazer. Coisa que o Aécio não quer, esse é um irresponsável, estou falando de gente séria. Fernando Henrique tem uma trajetória e o grande problema é uma dor de cotovelo com o Lula, isso é uma tragédia. Ele não consegue engolir que tenhamos um sujeito letrado como ex-presidente e quem passa para a história do Brasil é um metalúrgico de Garanhuns, com quarto ano primário e que tem muito mais reconhecimento internacional.
O Fernando Henrique diz que o Lula sabia de possíveis irregularidades que aconteceram tanto no mensalão, quanto no petrolão, então, quer dizer que ele também sabia da compra de votos que aconteceu para a reeleição dele? De todas as denúncias de corrupção em empresas públicas, escândalos atrás de escândalos que aconteceram durante a gestão dele? Ou a teoria do Domínio do Fato serve para o Lula e não para o Fernando Henrique?
Fonte: CUT