Levantamento da CNI mostra que somente em 1999 as pessoas se preocuparam tanto com a possibilidade de ficar sem trabalho
O Índice de Medo do Desemprego, medido trimestralmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) desde 1999, teve alta de 4,1% em março ante dezembro de 2015 e registrou 106,5 pontos no mês passado. Esse foi o segundo maior índice da série histórica. Somente no início de 1999, ainda no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante a crise cambial brasileira, o indicador tinha sido maior: 107,3. Já o menor foi registrado em março de 2013: 69. Segundo a pesquisa, o medo do desemprego aumentou mais fortemente entre dezembro de 2014 e março de 2016.
O indicador foi divulgado ontem pela confederação, junto com o Índice de Satisfação com a Vida, que caiu 2,8% ante dezembro de 2015, atingiu 92,4 pontos, o menor patamar desde o início da série histórica, iniciada em março de 1999. Na comparação com março de 2015, a queda no indicador foi de 2,4%. Em nota divulgada para a imprensa, a entidade diz que os brasileiros nunca estiveram “tão insatisfeitos”.
O levantamento encomendado ao Ibope foi feito com 2.002 pessoas em 143 municípios entre 17 e 20 de março. E, segundo a economista da confederação Maria Carolina Marques apresentou basicamente duas perguntas aos entrevistados: “Em relação a sua vida hoje, você está muito satisfeito, satisfeito, insatisfeito ou muito insatisfeito?”; e “Quanto ao desemprego, pensando em você e nos seus familiares, você sente muito medo, sente medo, ou não sente medo?”.
“A pesquisa segue os critérios científicos de segmentação por sexo, grau de instrução, idade, entre outros”, afirma a economista. “Com base nas respostas, nós fazemos a ponderação usando também critérios científicos”, complementa. Segundo ela, as pessoas começaram a ficar muito assustadas a partir de dezembro de 2014, o que fez a curva do gráfico disparar para cima.
Ela ressalta que a questão econômica é a que mais pesa para a queda do índice de satisfação com a vida. E que os dois indicadores são considerados pela entidade como “antecedentes de um comportamento” de consumo. “A pessoa que está satisfeita com a vida não tem medo de perder o emprego, tem coragem pra tomar crédito e não corta o consumo”, declara. Já o que tem medo passa a poupar mais e gastar menos. “Enquanto não houver no horizonte uma sinalização de melhora (da situação do País) os índices vão continuar se deteriorando.”
Círculo vicioso
Marco Rambalducci, consultor econômico da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), afirma que o aumento do índice de medo do desemprego atinge diretamente o varejo. “Com essa sensação de insegurança, os consumidores evitam fazer novos gastos a prazo, passam a comprar menos à vista. As vendas a crédito caem de maneira significa e o varejo depende muito dessas vendas”, ressalta.
O consultor identifica um círculo vicioso na situação atual. “Com medo de perder o emprego, o consumidor não compra. O comerciante tem de demitir porque cai a receita e o desemprego, assim como o medo do desemprego, aumentam”, explica. O índice da CNI, de acordo com ele, casa com os de inadimplência. “A inadimplência vem caindo porque as vendas estão caindo, mas não é só isso. Tem gente que fica com tanto medo de perder o emprego que faz de tudo para limpar o nome. Não quer ficar desempregado e com nome sujo”.
Fonte: Folha de Londrina