Movimentos sociais e centrais sindicais lançam quinta-feira (8), em São Paulo, a Frente Povo Sem Medo, com objetivo de “contribuir para um novo ciclo de mobilizações sociais no país”, segundo o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, um dos idealizadores, ao lado da CUT, CTB e outras organizações.
A frente terá o trabalho de base nas periferias como método fundamental para “acumular forças para uma saída à esquerda para atual crise política e econômica”.
Boulos disse que a organização é resultado das mobilizações realizadas por movimentos sociais e sindicatos desde o ano passado. Sem endossar proposta de impeachment, a frente é crítica aos rumos tomados pelo governo federal para enfrentar a crise. “A posição da frente é contra qualquer saída à direita. E entendemos que o impeachment e a posse do vice, Michel Temer (PMDB), é uma saída à direita.”
Serão três os eixos de atuação da frente. O primeiro é combater políticas de austeridade, como o ajuste fiscal, os cortes em programas sociais e o arrocho salarial dos servidores federais. O grupo também pretende combater as políticas conservadoras, como a ampliação das terceirizações e a redução da maioridade penal e apresentar uma saída à esquerda para a crise. “Mas não apenas isso, uma saída dos de baixo, com o povo”, ressaltou o ativista.
Os primeiros atos da Frente Povo Sem Medo serão dia 8 de novembro. Estão previstas manifestações em várias cidades. Em São Paulo, deverá ser na Avenida Paulista, que tem sido o local de referência para os grupos conservadores e antipetistas realizarem protestos por impeachment, pela volta da ditadura e contra os programas sociais.
Os militantes pretendem pressionar o Congresso Nacional e o governo federal para avançar em reformas, como a do sistema político, do Judiciário, das comunicações, a tributária, a urbana e a agrária. “Não aceitamos pagar a conta da crise. Defenderemos que a crise seja combatida com taxação de grandes fortunas, lucros e dividendos, auditoria da dívida e suspensão dos compromissos com os banqueiros”, defendeu o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo.
Izzo disse que a frente espera ter apoio de parlamentares e intelectuais, mas que o mais importante é que consiga unir a população trabalhadora e tomar as ruas defendendo o aprofundamento da democracia. “Mais que pressão parlamentar, é importante uma pressão que venha de fora. Que demonstre que esse sistema político chegou a um nível de esgotamento e que daí não sai mais nada de progressista para a sociedade brasileira.”
Com base nesse esgotamento, o líder sem-teto descartou a possibilidade de criação de um novo partido como parte do enfrentamento às forças conservadoras e à crise. “Não é essa a proposta. A proposta é que a gente trabalhe no campo da luta social. Não acho que criar partido resolva nossa situação neste momento. Nós temos que primeiro fazer a lição de casa, que é construir amplos processos de mobilização, para que a luta por reformas populares tenha mais consistência para ser travada na sociedade”, afirmou Boulos.
“Existe uma terceira alternativa. Que não é o retrocesso das forças conservadoras e não é a política do atual governo que onera os trabalhadores. A terceira alternativa está na nossa proposta, fazendo aqueles que sempre ganharam pagarem pela crise. Esse é o recado, tanto para o governo quanto para a direita conservadora”, completou o militante do movimento negro e coordenador da Uneafro – rede de cursinhos populares –, Douglas Belchior.
Recentemente, parte das organizações que compõem a Frente Povo Sem Medo – como CUT, CTB e UNE – lançaram a Frente Brasil Popular, que realizou uma manifestação no último sábado (3), em defesa da democracia, da Petrobras e contra o ajuste fiscal. Para Izzo, não há problema em haver várias frentes de luta. “Não é uma competição. O importante é avançar na mobilização contra qualquer ataque aos direitos trabalhistas e outros retrocessos. As frentes poderão atuar juntas se as organizações que as compõem assim entenderem”, concluiu.
O lançamento da Frente Povo Sem Medo deve reunir cerca de 700 militantes de movimentos sociais de todo o Brasil, além de intelectuais, professores e parlamentares. O evento vai ocorrer às 18h, no Espaço Trasmontano, no centro da capital paulista.
Fonte: Por Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual